sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Do pó ao pó

No começo era o pó e o silêncio havia muito pó e nenhuma dona de casa para reclamar e nenhuma diarista para limpar o pó que era tanto e o pó era tanto que cobriria todos os móveis mas não havia móveis só o pó que era muito mas era tanto pó que escureceria qualquer cortina branca se cortina branca existisse mas não existia cortina nem branca nem azul nem preta ou dourada nada havia só o pó um pó que com certeza daria alergia se houvesse um alérgico mas nenhum alérgico existia só existia um pó denso e silêncio empoeirado que poderia explodir num grito se grito tivesse mas não havia grito só o pó e o silêncio que incomodaria uma mãe que perguntasse ao filho qual a nota do boletim mas não havia nota nem boletim nem mãe nem filho só pó que empoeiraria as ideias mais claras ou obscuras se essas existissem mas nada de ideias só pó adensando adensando e densaria noite a dentro se noite existisse mas não existia nem a densidade nem dentro nem fora pois não existia nem tempo nem lugar e nada disso trazia reflexão pois não existia reflexão alguma só pó o pó e o silêncio saudável se fosse madrugada de lua mas não havia nem madrugada nem lua nem sol nem dia nem noite nada nada além do pó que foi aumentando aumentando e desse pó nasceu o homem e não se sabe nem quando nem como nem porque pois não existia nem por que nem porque nem porquê e nem por quê só existia o pó o silêncio e agora o homem o pó foi vai baixando diminuindo e quando tudo estava bem limpinho surgiu a mulher e assim começou a história da humanidade e suas confusões   e alegrias empoeiradas 

3 comentários:

  1. "pó que empoeiraria as ideias mais claras ou obscuras se essas existissem mas nada de ideias só pó adensando adensando e densaria noite a dentro..."

    Sem Dúvida o melhor trecho do Poema, refletir antes da existencia, me lembrou a Ódisseia, antes de cristo! rsrs perfeiro edson.... você é maravilhoso em Tudo que faz!

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  2. Muito obrigado, Joanderson, é muito bom saber que você entrou, leu, pensou e comentou. Sabe, não é nada fácil segurar as barras que eu seguro por ser artista nesse país, os sentimentos ficam à flor da pele, a sensiblidade é demais aguçada e isso me faz, muitas vezes, sofrer. Pensar dói e eu vivo pensando. Mas, confesso: é uma dor, bendita!

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  3. Uma reflexão tão linda e simples sobre algo tão complexo. Parabéns.

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